Nesta segunda-feira (11/05), as centrais sindicais reuniram-se, por meio de videoconferência, com do Diretor Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Rider. Entre variados temas debatidos diante das perspectivas desfavoráveis nas áreas econômicas, sociais e sanitárias, o presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), José Calixto Ramos, focou sua participação apresentando os desafios da proteção da saúde das trabalhadoras e trabalhadores.
Calixto lembrou que a subnotificação de acidentes laborais já era um problema antigo e recorrente, mesmo antes do agravamento com a pandemia resultante do coronavírus.
“É importante lembrar que esse desafio já era enorme mesmo antes da Pandemia do Covid-19 – o número de acidentes, adoecimentos, mortes e mutilações já era trágico, apesar da elevada subnotificação. E mais, esse registro era e é de apenas 30% da classe trabalhadora, pois se refere somente ao emprego formal, aquele efetivamente demonstrado na estatística oficial do governo. Com a Covid-19, não há dúvida, isso se agrava muito mais, exponencialmente. Hoje não se sabe quantos trabalhadores estão adoecendo e morrendo no trabalho. Só sabemos que são dezenas milhares, ou até centenas milhares”, reforçou o líder sindical.
Calixto, na oportunidade, destacou os riscos a que se submetem categorias que estão na linha de frente de enfrentamento da pandemia.
“Uma visão desoladora desse cenário, é o número de profissionais de enfermagem mortos pela Covid-19 no Brasil que chegou em 98 no dia 07 de maio, segundo dados do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem). Esse número já é maior do que nos Estados Unidos, que contabilizava 91 mortes. Esses casos no Brasil representavam 38% dos 260 profissionais de enfermagem mortos no mundo até a data citada. Uma escancarada realidade de como é precária as condições sanitárias e de trabalho, onde protocolos mínimos não são cumpridos, faltam EPI’s, respiradores, quadros profissionais insuficientes, com jornadas excessivas que levam à exaustão máxima, tanto física e quanto mental. Sem falar as condições indignas e de degradação máximas em ambientes de trabalho, até então invisíveis aos olhos da sociedade, como das funerárias, cemitérios”, alertou.
O presidente da NCST relacionou preocupações diante da postura do Palácio do Planalto de seguir desafiando orientações do consenso científico, promovendo atitudes imprudentes do ponto de vista do controle de contágio,
“Para piorar essa situação mórbida, a cada dia o governo estimula a exposição do trabalhador à contaminação pelo Covid-19. Não bastasse o mau exemplo, do próprio presidente, instiga à sociedade a descumprir o isolamento social. Agora com o Decreto Nº 10.329, de 28 de abril de 2020, o governo amplia o rol de Atividades Essenciais e praticamente impossibilita o isolamento social, ao obrigar o trabalhador a optar entre a sua vida ou o seu emprego. As centrais, preocupadas com as condições de saúde e segurança dos trabalhadores, na semana passada, por ocasião do Dia 28 de abril, em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças Profissionais e o Dia 1º de maio, dia do Trabalhador, apresentaram o Protocolo de Recomendações e Condições Mínimas de Saúde e Segurança dos(as) Trabalhadores(as) em nas atividades essenciais, na certeza de cumprir minimamente com a preservação da vida daqueles que trabalham”, avaliou.
Calixto concluiu sua participação avaliando como imprescindível a atuação conjunta da OIT com as representações sindicais para o enfrentamento da grave crise resultante do coronavírus.
“Enfim, tem muito a ser feito, pois o cenário é de insegurança e incerteza extremas, daí ser urgente a necessidade de contarmos com a OIT, uma aliada vital para a continuidade dessa luta que está só começando”, disse.