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Mais de 1,2 milhão de trabalhadores ficam desempregados no 1º trimestre

O Brasil terminou o primeiro trimestre de 2020, mesmo período em que o coronavírus chegou ao país, com 1,218 milhão de pessoas a mais na fila do desemprego.

Com o avanço no número de desempregados, a taxa de desocupação avançou para 12,2%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta quinta-feira (30).

O primeiro caso conhecido de Covid-19 ocorreu em 25 de fevereiro. No mês seguinte, março, o país começou a sentir os efeitos econômicos do novo coronavírus, com fechamento de bares, restaurantes e comércio como forma de evitar avanço da pandemia.

A população desocupada foi de 11,632 milhões, no último trimestre de 2019, para 12,850 milhões nos três meses de 2020, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

A alta no período foi de 10,5%.

A analista da pesquisa, Adriana Beringuy, apontou que o crescimento no número de desempregados já era esperado.

“O primeiro trimestre de um ano não costuma sustentar as contratações feitas no último trimestre do ano anterior. Essa alta na taxa, porém, não foi das mais elevadas”, disse.

De acordo com o coordenador do IBGE Cimar Azeredo, porém, os resultados da pesquisa já retratam os efeitos do novo coronavírus sobre o mercado de trabalho no Brasil.

“Tivemos influência expressiva da Covid-19. Não temos como separar sazonalidade e efeitos da pandemia e do distanciamento social, mas de claro temos efeitos”, apontou.

Dos novos desempregados, 800 mil —dois terços— estavam no mercado informal, sem carteira assinada. Outros 400 mil eram trabalhadores formais.

​Com a intensificação da quarentena, muitas atividades típicas da informalidade, como venda de comida na rua, deixaram de ser feitas por falta de consumidores circulando pelas cidades.

“[O setor de] Alimentação não costuma ter queda nessa época, mas ela ocorreu”, disse a analista Beringuy.

A Pnad do IBGE mostrou perdas em todos os setores de atividades no primeiro trimestre, como indústria (queda de 2,6%), construção (-6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-3,5%), alojamento e alimentação (-5,4%), outros serviços (-4,1%) e serviços domésticos (recuo de 5,9%).

As quedas em comércio, alojamento e alimentação e outros serviços, como cabeleireiros e outros prestados às famílias​, foram as maiores da série histórica desde 2012.

Segundo o IBGE, a queda no serviço doméstico (-5,9%) também foi um recorde, assim como o recuo de 7% no emprego sem carteira assinada do setor privado. Também caíram o emprego com carteira (recuo de 1,7%) e o por conta própria sem CNPJ (-3,8).

 

RECUO NA POPULAÇÃO OCUPADA

O IBGE considera desocupados aqueles trabalhadores que não estavam empregados durante a realização da pesquisa, mas que procuravam uma ocupação.

Considerando aqueles que não estavam trabalhando e tampouco procuravam emprego, o contingente da população ocupadada perdeu 2,3 milhões de pessoas, para 92,2 milhões, uma queda de 2,5% —a maior recuo da série.

Desses, 1,9 milhão atuavam na informalidade.

“A população fora da força de trabalho já vinha crescendo, e é importante lembrar que no primeiro trimestre de cada ano, essa população costuma aumentar, porque é um período de férias e muita gente interrompe a procura por trabalho”, disse Beringuy, do IBGE.

Em março especificamente, porém, houve o agravamento da pandemia. Com estabelecimentos comerciais, de serviços e indústrias fechados, há pouco estímulo para quem não está empregado procurar uma vaga.

O professor Marcelo Cambria, da Fipecafi, afirma que os dados ainda não mostram o reflexo da pandemia no mercado de trabalho. Ele avalia que o desemprego pode chegar a 15% ou 17%, a depender de quanto durarem os períodos de isolamento social e quarentena nos estados e cidades do país.

“Depende de quanto tempo demorarmos para chegar ao limite da pandemia e depois ao retorno à normalidade”, disse o professor.

O economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa​ analisa que abril deve seguir a linha de aumento na taxa de desocupação, que teria uma melhora em maio, desde que a quarentena acabe.

“Vai depender de quanto tempo dura a quarentena e a propagação do vírus”, disse o economista.​

O secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar, estimou nesta quinta que a taxa de desemprego no país pode até dobrar por conta dos impactos da crise do coronavírus na economia.

“No Brasil a gente já estava com taxa de desemprego elevado. Presume-se que esse desemprego anterior possa aumentar entre 50% a 100% do que era a taxa anterior”, afirmou ele, em live promovida pelo banco Credit Suisse.

“Nós só vamos saber disso nos meses de julho, agosto, para verificar qual o tamanho do estrago do coronavírus no Brasil”, completou.

 

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TELEFONE

Também reflexo da pandemia, o IBGE realizou a pesquisa pela primeira vez por telefone, com objetivo de proteger os trabalhadores. Estava, porém, com dificuldades de ouvir os brasileiros.

O coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, disse que a taxa de resposta dos entrevistados foi de 61,6%, bem menor do que os cerca de 88% do mês de dezembro.

“A pesquisa não foi desenhada para ser coletada por telefone. Ela tem um tamanho grande e o que fizemos foi para não ficar sem nenhuma informação sobre o mercado de trabalho”, disse Azeredo.

Segundo ele, ainda não se pode dizer até que ponto a pandemia muda o resultado final da pesquisa.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, porém, a realização da pesquisa por telefone prejudica a Pnad.

“É claro que o IBGE não faria uma estatística mediana, controlariam isso muito bem. Estou falando apenas sobre o número de resposta, e questões sobre a representatividade e precisão que essa pesquisa vai ter relacionada aos segmentos dela”, disse Étore.

Barbosa, do Itaú Unibanco, diz que a estatística do desemprego pode ter ficado distorcida em um momento de isolamento social no país. “Quem está em quarentena provavelmente não está procurando emprego ou não está disponível para trabalhar na semana de referência”, analisou.

O país vive uma espécie de apagão estatístico de emprego: os dados do Caged (sobre pessoas com carteira assinada) ainda não foram divulgados neste ano, o detalhamento do seguro-desemprego é irregular e o IBGE mudou a coleta de dados para telefone.

Além disso, o governo afirmou que mais de 4 milhões de trabalhadores formais já tiveram contrato de trabalho reduzido ou suspenso, com empregadores recorrendo à medida provisória do governo para tentar evitar demissões em meio à aguda crise.

O aumento do número de desocupados vem acompanhando a escalada da Covid-19 no Brasil e das medidas de fechamento de serviços não essenciais adotadas para conter a disseminação da doença.

O primeiro caso no país foi identificado em 26 de fevereiro, mas as primeiras medidas de isolamento social só começaram a ser tomadas na segunda quinzena de março.

Até a manhã desta quinta, o país somava 5.466 mortos e 78.162 infectados no Brasil pelo novo coronavírus. Apenas nesta quarta (29), em um único dia o país confirmou 449 novas mortes e 6.276 novos casos do novo coronavírus, mais do que no mês inteiro de março somado.

Um dos mortos desta quarta foi David Wu Tai, 71, diretor de informática do IBGE. Ele estava internado desde 17 de abril na UTI da Unimed da Barra da Tijuca e trabalhou por mais de 40 anos no instituto.

 

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo